14/05/2013

Terapia de choque

Publicada por Ana Reis à(s) terça-feira, maio 14, 2013
Sinto uma neblina a instalar-se a partir duma certa hora. Por isso tenho que me levantar para fazer uma saudação ao sol no chão da sala (os praticantes de Yoga vão perceber).

Ajuda sempre um pouco. E não deixa de ser mais inteligente que um café nocturno, que me deixa sempre a debater furiosas teorias pela noite dentro.

Neste momento o meu cérebro a esforça-se para além da sua quota diária de energia. Sinto-me como se tivesse apenas meio cérebro.

O que me permite suportar apenas metade das tretas que são habituais. O que não deixa de ser óptimo, visto que foram essas tretas bem pensadas que tornaram a minha escrita tão falsa nos últimos tempos.

Sinto uma certa saudade de escrever como escrevia na minha adolescência. Com os dramas, catastrofismos e toda aquela inocência parva que nunca tinha medo de arriscar.

Talvez eu tivesse apenas meio cérebro na altura. Com todas as hormonas em estratagemas de distracção crónica. Se escrevi para além de tudo isso suponho que não tenho desculpas para não o fazer agora.


Tenho escrito de forma consistente nos últimos dias. Porque me deixei de meias-soluções (=tretas) e me atirei de cabeça. Parece que planos extravagantes e passinhos de bebé não funcionam comigo.

Aparentemente, pelo andar das coisas, o que parece funcionar é terapia de choque. Ser brutal com a minha preguiça pós-jantar, sentar-me na cadeira mais desconfortável da casa e simplesmente escrever como se amanhã não fosse dia de trabalho.

Passei tanto tempo em busca de truques mágicos. Nunca me deti realmente a analisar se essas extravagâncias poderiam funcionar comigo.

Sou uma pessoa de passos de gigante. Não foi sempre assim. Mas começou a ser a partir do momento em que percebi que era demasiado boa a inventar desculpas. Em antecipação da incerteza que sempre sinto ao escrever a minha mente prefere sempre dar um tiro no pé.

A única solução viável é arranjar qualquer distracção que me permita aproximar do teclado sem que ela tenha tempo para debitar as suas velhas desculpas.

Só assim é que realmente consigo encontrar aquela folga que preciso para começar a teclar. Aquela brecha entre as neuroses do meu dia-a-dia e a clareza da imaginação.

1 comentários complexos:

Isabel disse...

Wellcome back!!

"Sinto uma neblina a instalar-se a partir duma certa hora." tão poético!!!

e já agora,

adoro o teu léxico <3

 

Serious Complexity Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos